Qual seria a extensão do grau de efetividade da segurança fabricada pelo dinheiro? Compra-se segurança na forma de um veiculo blindado, um condomínio bem guarnecido por câmeras de vídeo, porteiros, dispositivos de alarme, aquele 7.62 guardado na gaveta da cômoda ao lado da cama. São meio de proteção oferecidos pelo mercado que só exige uma coisa dos seus proprietários: dinheiro.
O recrudescimento da violência urbana não é reflexo da suposta perda de poder coercitivo das leis. Endurecer as regras do jogo e determinar leis mais severas são medidas inúteis diante de um quadro social que se tornou caótico porque a segurança publica foi colocada em segundo plano e não porque as leis são falhas. Culpa de quem? Do governo? Não completamente!
A culpa por essa histórica chaga social que é a violência urbana também é da própria população. A segurança publica perdeu seu status de prioridade porque as classes mais abastadas perceberam que era mais barato comprar a própria segurança do que exigir do governo políticas voltadas para a solução do problema. Pagam-se impostos que não geram resultados satisfatórios, recorre-se então ao poder do capital privado.
É por meio dele que a classe media brasileira se blindou dentro da sua falsa noção de segurança. O que o dinheiro compra sai da pauta de interesses e é exatamente nesse ponto que a população se polariza e se hostiliza, pois os interesses de uma classe deixam de se alinhar com os interesses da outra.
As cenas de violência e saques que vemos atualmente como uma realidade nacional é reflexo desse aspecto imiscível entre as classes brasileiras. A classe media se convenceu de que seu dinheiro é capaz de manter sua segurança; os mais pobres adotaram à violência como ferramenta no combate a falta de segurança. Ambas enfrentam seus dilemas e simultaneamente os alimentam: consome-se drogas, mercadorias pirateadas e ou roubadas. Investe-se diretamente em atividades ligadas ao trafico de drogas e ao aumento da violência. De quem é a culpa? Do governo corrupto e incompetente ou da população individualista e adulta que se comporta como uma criança que precisa de uma babá?
Cada um transforma em arma uma extensão do próprio corpo. Enquanto os pobres se convenceram do poder do próprio punho os ricos se convenceram do poder do próprio bolso. Cada um se fechou dentro de sua esfera particular de sobrevivência. Esqueceram-se de que em algum momento um será obrigado a entra no mundo do outro. Em algum momento o rico vai ter que descer do seu carro blindado e transitar por ruas onde a segurança publica foi negligenciada; em algum momento o pobre vai se ver obrigado a pedir emprego em uma loja que ele depredou e saqueou. Nessa hora vai se sair melhor àquele que menos vergonha tiver na cara. Resta apenas torcer para que em algum momento essa realidade mude.
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO