terça-feira, 31 de outubro de 2017

PÊNDULO DA TELEDRAMATURGIA


Novelas fazem sucesso entre os brasileiros, mas há quem diga que sua influencia diminuiu nos últimos anos. A internet pode ter rompido os laços de fidelidade do telespectador, mas o poder das novelas seja como meio difusor de tendências ou como pauta nos assuntos do dia a dia, continua a ter uma relevância significativa.
Se por um lado a qualidade das novelas - refiro-me aos aspectos visuais - tenha melhorado o mesmo não se pode dizer dos personagens. Nesse quesito não ouve progresso, mas apenas uma oscilação entre dois pólos simplificadores. A reformulação da imagem da “heroína”, em certa medida promovida pela expansão do feminismo radical, transformou a personagem feminina - que antes era vista como frágil, dependente e insuportavelmente inocente - em uma bandida, infiel, vaidosa e dotada de uma gigantesca necessidade de bajulação.
Em ambos os extremos a teledramaturgia brasileira retratou uma figura feminina superficial que em nada se aproxima da personalidade complexa e profunda da figura do mundo real. Um lamentável pêndulo criativo que oscila entre dois termos antagônicos e que ainda não foi capaz de ir além dessa estreita dimensão criativa.
TIAGO R.CARVALHO

domingo, 29 de outubro de 2017

FRUSTRAÇÕES


É do silencio delineado pela aparente ausência de sentido das circunstancias que o homem alimenta o barulho incessante de suas frustrações.
Tiago R. Carvalho

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

FALTA “MATURIDADE” POLITICA!


O brasileiro certamente ainda não desenvolveu “maturidade” política. Maturidade aqui não deve ser entendida como um termo lógico e sim como um termo cronológico, isto é, não se trata de uma incapacidade de enfrentar a situação e sim da falta de um tempo de contato mínimo para que o jogo da política seja encarado como um mecanismo natural de sua execução.
Conchavos sempre existiram na política em todos os lugares do mundo. Isso faz parte do que se chama “fazer política”. O conflito entre os poderes não é um sintoma de anormalidade é sim uma necessidade para que cada um deles cumpra sua função real. O fato é que não estamos acostumados com as reviravoltas da política, com as suas tramoias e com seus representantes.
É essa falta de “maturidade” política a responsável por colocar o legislativo brasileiro em seus diversos níveis - as Assembléias, as Câmaras de Vereadores e o Congresso Nacional - em um nível de confiabilidade expressivamente negativo. A democracia ainda não é encarada pelo que ela se propõe a ser e sim pelo que ela tem demonstrado ser: um regime flexível onde predomina a instabilidade devido à manutenção de interesses conflitantes.
A erosão da política brasileira se deve a “juventude” de sua base posibilitadora, ou seja, seus eleitores. Estes sempre colocaram o país na dependência da probabilidade. A escolha dos candidatos ocorre ao acaso como um simples rolar de dados de um jogo de soma zero.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

FALTA ENGAJAMENTO POLITICO?


Falta engajamento político ao brasileiro? Quando se levanta a questão da política no Brasil a critica mais recorrente é exatamente esta: falta engajamento. O problema é que a noção de engajamento político me parece ter sido distorcida pelo brasileiro e assumiu a forma de uma militância cuja força reside na polarização. Uma espécie de busca por harmonia dissonante.
Engajamento é quando o individuo se coloca diante de uma análise de um fato concreto tendo a consciência de seu papel como agente de mudanças sociais e políticas. O drama é que uma parcela muito reduzida da população consegue fazer uma análise que não seja reduzida a sua própria opinião e uma parcela ainda menor consegue se enxergar como agente de mudanças sociais. Isso em parte se justifica pelo desgaste que a imagem do voto, como ferramenta de cidadania, tem sofrido junto às massas. Diante de uma classe política que cada vez mais deixa transparecer seus aspectos mais lamentáveis é natural que se questione, por exemplo, a real efetividade do exercício da cidadania.
O fato é que continuar batendo na tecla de que falta engajamento político, sem que se haja uma real compreensão do termo por aqueles que o empregam pode ate piorar um quadro político caótico, como é o caso do Brasil, e que certamente não será resolvido por uma militância intolerante que não se cansa de tentar impor a todos as suas convicções políticas.
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A INSPIRAÇÃO DE MARTE


Dos explosivos a penicilina; das ondas de radio ao lança chamas; dos corantes as armas químicas; da fissão do átomo a Hiroshima. Tudo que é bom e tudo que é ruim nasceu na guerra, sob os olhos furiosos de Marte. A natureza não revela seus segredos sem cobrar seu preço. Essa é a fatura que nós pagamos por nos pretender buscar um lugar acima das demais espécies.
TIAGO R.CARVALHO

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A ARVORE


A arvore, ferida de forma irreversível, têm seus galhos dobrados pelo peso dos frutos do outono. A abundancia desses frutos é uma reação da própria arvore que diante de uma realidade que espelha a proximidade do seu fim reconhece a si mesma como uma criatura que suporta as vicissitudes da vida.
No fim ela desaba sobre sua própria sombra lançando ao chão os frutos que a enfraqueceram e que farão renascer uma nova e desafiadora criatura de seu próprio destino.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

HIPOCRISIA DO BOM SENSO


No Brasil a estreita ligação que se estabeleceu entre a política e a religião reflete a visão pessimista da bancada evangélica quanto a natureza do povo brasileiro: uma massa humana passional e sujeita ao pecado.
É por meio dessa analise medieval da sociedade que eles reivindicam uma postura mais atuante do Estado como regulador do comportamento. Nesse rastro as leis tornaram-se impregnadas de princípios cristãos e se reforça a imagem falha de que a sociedade brasileira se baseia em princípios morais. Por conseguinte o bom senso da hipocrisia promove a adoção do conservadorismo e passamos a viver do paradoxo: a nação que avança para o futuro sem sair de onde esta.
TIAGO R. CARVALHO

terça-feira, 25 de julho de 2017

CãozinhO


Foi-se embora o meu cãozinho!
Meu cãozinho se foi!
Meu herói... minha heroína;
Partiu com um dilacerante adeus
E me deixou aqui;
cheio de saudades;
cheio de lembranças;
que nunca morrem;
que nunca me deixam;
e que nunca me permitiram ser novamente
o que eu era antes dele.
TIAGO R. CARVALHO

sábado, 22 de julho de 2017

NÃO


Como podemos ser animais sociais e ao mesmo tempo adotarmos o comportamento irracional? Reconhecendo que a sociedade não é uma criação do homem e sim um fenômeno do qual ele faz parte.
Ao negar nossas responsabilidades, como seres ditos racionais, provocamos uma desordem de identidade que se realimenta do processo de socialização – atualmente dominado pelas redes sociais.
A necessidade de criar vínculos em toda parte, de diversas formas e por diversos meios exige a manutenção de uma identidade mutante que se traduz num abalo permanente do próprio ser. Entre a harmonia interior e a popularidade sacrifica-se a primeira em nome da segunda. Não seria a primeira vez em sua historia que o homem abdica da paz diante de seus interesses. A voz passional é sempre mais viril que a da razão.
Somos tão poderosamente conscientes de nosso intelecto que lhe negamos o papel de arbitro. Talvez devido ao medo de nos tornarmos excessivamente frios e mecânicos, ou quem sabe nossas mentes tenham evoluído mais rapidamente que nossos corpos - sempre presos a um conceito de felicidade que se traduz em sensações.
A verdade é que não negamos a razão por temer suas conseqüências, mas porque queremos abrir mão das responsabilidades que ele representa. Essa fuga, essa busca eterna pela juventude nos torna animais famintos por socialização. Queremos ser populares porque é assim que nos renovamos, nos tornamos fluidos, elementos sem uma forma física, sem um encaixe perfeito. É dessa forma, estando em todos os lugares ao mesmo tempo, que nos eximimos daquilo que nos adaptamos para ser: seres racionais.
Negar é, portanto a essência humana: da criança que quer ser adulto; do adolescente que desconsidera sua imaturidade ao adulto que nega os primeiros fios brancos reluzentes diante do espelho. Aquele que não suporta ouvir um “não” é o mesmo que diz “não” a si mesmo por toda a vida.
Não somos pacíficos embora saibamos as conseqüências da guerra.
Não somos preservacionistas embora testemunhemos a fúria da natureza.
Não somos caridosos embora saibamos como é dolorosa a fome.
Não somos humanos embora tenhamos consciência de como ser.
Não... Não têm desculpa!
AUTOR:
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

domingo, 2 de julho de 2017

ASTRONAUTA


Não sou mais o que eu era! Algo se perdeu nos últimos tempos sem que eu possa dizer exatamente o que. Mudei naturalmente, furiosamente, desesperadamente... Repentinamente. Isso porque resolvi olhar a mudança com outros olhos e acabei enxergando que sua aparência não corresponde ao que ela representa.
Mudar é difícil e assusta porque se parece com um retrocesso. É como se subitamente um caminho contrario fosse traçado. Às vezes é preciso coragem para jogar a toalha e seguir em outra direção. Que bom que existem outros caminhos alem daqueles definidos pelo meu próprio ego.
A verdade é que temos vergonha de mudar diante daqueles que nos conhecem. Porque mudar nesse meio é como abraçar a derrota, assassinar o que fomos, suicidar nossa personalidade, nos curvar a realidade. Mas meu orgulho não me permite tal desonra. Por isso ao mudar busco novos ambientes, novos amigos.
No planeta terra só existem conquistadores vitoriosos na arte de esconder suas derrotas. Heróis, príncipes e princesas! Como o mundo é bonito na sua irrealidade aparente. O brilho das chamas esconde as cinzas que ela produz.
Estou a procura de outros planetas, onde exista vida humana com todas as suas falhas e complexidade orgânica de execução. Os alienígenas da terra possuem o inconveniente da perfeição. Ao me perder na imensidão dos espaços vazios, sob a tênue luz das estrelas furiosas e incandescente, encontro as respostas que no passado busquei entre os vaidosos sábios da ignorância.
AUTOR:
TIAGO R. CARVALHO

quinta-feira, 29 de junho de 2017

INCERTEZA


A grande questão que se coloca diante do individuo como ser social é definir a melhor posição dentro de um quadro de realidade incerta. Viver atualmente tornou-se um exercício profundamente criativo, ou seja, inexiste um padrão anterior que se possa adotar como ponto de partida.
A nova realidade com seu aspecto mutável imprime uma constante necessidade de se reinventar para se encaixar aos enquadramentos sociais. Não existe nessa dinâmica a idéia de progresso; o que existe é uma intermitência que constrói e desconstrói núcleos sociais onde o senso comum é num primeiro momento adotado como cimento ideológico e em um momento posterior é descartado por não mais se conformar com as recentes mudanças.
O aspecto positivo disso é que os dogmas passam a morrer ainda jovens, e o aspecto negativo é que certos valores não chegam a ser plenamente desenvolvidos.
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

quarta-feira, 14 de junho de 2017

CONJECTURANDO!!!


Conjectura é só mais uma das inúmeras doenças da alma que quando se manifesta nega a duvida o direito de existir.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO

quinta-feira, 25 de maio de 2017

COM O TEMPO...


A primeira coisa que muda é a forma como você se vê. Quando se é jovem olha-se para si mesmo sempre com o olhar do outro. Como será que me enxergam?
Com o tempo surge a coragem de enxergar o que você é e não o que você pretendia ser. A realidade pode até ser um pouco cruel nesse ponto, mas penso que ela é dura para que você não precise continuar sendo - com você e com os outros. Afinal de contas ninguém é obrigado a entrar na onda se suas ilusões.
Com o tempo somos reconduzidos ao que somos. Nossa trajetória é circular nesse espaço curvo: não tem inicio e não tem fim. Todos acreditam que o objetivo da vida é encontrar aquele alguém que nos faça feliz. O objetivo da vida é relativo, mas é bem provável que o primeiro passo seja reencontrar a si mesmo. Com o tempo acontece!
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO

domingo, 21 de maio de 2017

DINÂMICA SOCIAL DE FRANCIS BACON


Formigas se alimentam daquilo que encontram: a natureza oferece e a oportunidade aceita.
Abelhas retiram o pólen das flores e com eles produz seu mel: criam aquilo que não existe.
Aranhas, hábeis predadoras, criam armadilhas e atraem seus alvos: induzem ao erro aqueles que não enxergam o perigo.
Como formigas, somos trabalhadores incansáveis que se contentam com o que a vida nós oferece.
Como abelhas, somos rebeldes desajustados que percebem que o suor do trabalho não é salgado, mas doce como o mel.
Como aranhas, somos implacáveis: diante da vida nos alimentamos da morte.
AUTOR: Tiago R. Carvalho

sexta-feira, 19 de maio de 2017

FATO!!!


O grande drama daquele que vive na "merda" e que os outros confundem o seu cheiro com seu caráter.
- Tiago R. Carvalho

domingo, 7 de maio de 2017

MATEMÁTICA DA PERSISTENCIA


Ao estabelecer uma meta deve-se inicialmente aceitar a possibilidade de que sua meta oposta se concretize. Pois somente assim surge a consciência de que a persistência é o resultado lógico de uma base matemática probabilística.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO

domingo, 12 de março de 2017

REFLETINDO


Fernando Pessoa disse que o céu era grande, a terra larga e o nosso coração do tamanho de um punho fechado. Dentre os elementos da natureza o sentimento é aquele que ocupa o menor espaço...um espaço que não lhe cabe e que não lhe define.
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO

UTOPIA DA LIBERDADE



O conceito de liberdade opera uma inversão de formas de opressão: no regime despótico o Estado oprime a vontade, no liberalismo é a consciência que age com força opressora. Como a consciência é variável, e em muitos casos inexistente, tem-se a impressão de que na democracia existe liberdade.
O próprio conceito de liberdade traz em si a proposta de conflito na medida em que o homem se vê abrigado a adequar seus interesses pessoais com o coletivo, ou seja, o homem se torna um alquimista social cuja obrigação é transformar desejo – força sedutora do inconsciente – em vontade. Vontade e desejo são completos opostos: vontade surge da reflexão, da avaliação dos prós e contras; já o desejo é apenas a manifestação do pólo pulsional e primitivo.
A liberdade também possui sua dose de opressão e está se torna clara quando se compreende que o homem, e somente ele, é responsável por seus atos. É essa a força esmagadora que o homem “livre” - o Atlas da modernidade - carrega nos ombros.
O existencialismo define que primeiro o homem existe como um nada e posteriormente define seu nicho social. Trata-se da absoluta negação da essência criadora, do “dom” natural, da aptidão genealógica. O homem segue por caminhos que se definem por meio de suas escolhas. Só em retrospecto ele reconhece suas falhas. Tragicamente essas falhas só se tornaram visíveis quando adquirem o status de incorrigíveis.
A ideia de liberdade ainda se confunde com a de “cada um por si”. O Estado paternalista autoritário faz despertar a natureza rebelde do homem que mergulha no rumo da busca por liberdade sem saber que ruma para novas formas de opressão. Liberdade não é cada um por si! Cada atitude individual possui um eco coletivo, viver como um Robinson Cruzoe não é uma opção é apenas uma utopia.
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

FELICIDADE DA TRAGEDIA ALHEIA (DESABAFO)


Quem nunca se deparou com um daqueles vídeos que mostram pessoas sem um dos braços ou sem pernas lutando para realizar algum tipo de atividade e logo no fim aparece aquela clássica frase: “E você ai reclamando da vida!”
O engraçado é que essas pessoas acreditam que estão prestando algum tipo de ajuda. São estas as mesmas pessoas que acham que depressão ou a recorrente tristeza se cura através da exposição da desgraça alheia. Certamente quem pensa assim nunca passou por uma situação de tristeza profunda que se caracteriza como doença.
Pessoas que postam fotos de portadores de doenças terminais com a mensagem “e você ai reclamando da vida” são maquiadores sociais, falsos sonhadores que adotam a pratica midiática de tentar mostrar que defeitos só existem-nos outros. Finja que você é perfeito e sorria com seu alto engano.
Se esta deprimido veja imagens de tragédias para sorrir! Já repararam a ironia disto? A imagem de um pobre coitado faminto é o remédio para a felicidade de tantos outros. Que planeta absurdo é esse em que vivemos? Imagens de pessoas na miséria chocam. A imagem sufoca o conceito por trás dela. O fotografo que acredita estar levando ao conhecimento de todos o retrato da barbárie não imaginava que sua fotografia serviria apenas como uma régua que mede a distancia de cada um da desgraça.
Adeptos da máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” eles espalham vídeos e fotos de tragédias para provocar o riso. Para uma pessoa deprimida uma imagem não possui a força de mil palavras. Uma pessoa deprimida não quer ver tragédia, quer ser ouvido! Saber que existem outros que também sofrem como ele reforça sua própria dor.
O que mais dói é ver que existem pessoas que acham que meus problemas e minhas dores desaparecem diante de imagens trágicas. Que meu sorriso aparece diante da imagem de uma criança faminta e sem braços. Se enxerguem! Se não sabem o que dizer então não digam nada! O silencio de um ombro amigo é o que de fato alivia os demônios internos de nossa consciência. Uma pessoa deprimida não espera encontrar uma tragédia maior que a sua. Uma pessoa deprimida somente busca enxergar aquilo que a vida tem de melhor.
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

MUITO PERTO DE LUGAR NENHUM


Foi à introdução da hierarquia no seguimento social que levou a subjugação do homem pelo próprio homem. Nas sociedades tribais e pouco organizadas seus membros se encontravam em relativa igualdade. Não se via ali pirâmide social de classe ou uma distribuição desigual de recursos. Era uma realidade idílica - se deixarmos de considerar a violência desencadeada pela luta individual por sobrevivência contra a natureza.
A natureza era ao mesmo tempo provedora e opressora. Fornecia ao homem os meios para sua sobrevivência e também o atormentavam com o calor, o frio, as inundações, os insetos, as doenças. Para evoluir o homem buscou dominá-la. Para isso se organizou: desenvolveu ferramentas, adotou uma linguagem para que pudessem se comunicar uns com os outros, desenvolveu os costumes, as crenças, ou deuses. As sociedades foram se unificando através do comercio e da cultura. Criou-se os valores éticos, o espaço geográfico se retraiu com a criação do automóvel e do avião. Os oceanos deixaram de serem obstáculos e os temíveis monstros marinhos se tornaram lendas.
A sociedade se tornou mais complexa, ramificada, imiscível. Critérios de separação foram criados e outorgados. Roupas “brancas” não deveriam ser misturadas com as roupas “de cor” na maquina social depravada pela ignorância conveniente. Teve inicio a escravidão, inicialmente criada a partir de conceitos étnicos. O negro, no entanto, podia ser consumidor, poderia aquecer o comercio. Um novo nicho social surgia para estes indivíduos marginalizados e novos gritos percorriam as ruas: Chega de escravidão! Escravo não é consumidor! Liberte-os! Libertados eles foram - não da sua condição de escravo, mas somente da sua imagem.
Mas a “maquina” continuou buscando métodos de subjugação. Os negros deixaram as senzalas e os pobres ingressaram nas fabricas - Ignorantes, porem fortes. Trabalho era a palavra de ordem! Doze horas por dia, sete dias por semana. Era a escravidão moderna com sua base ideológica pressa a um conceito de classe. Saem às grandes fabricas, vai-se embora a exploração desumana do século XIX. Surge à publicidade, a oferta de inutilidades úteis - o século XXI a luz das possibilidades do comercio.
Criaram-se necessidades por meio da linguagem conativa publicitária, aprisionou-se novamente o homem que se tornou escravo de seus desejos. Até onde iremos chegar? Impossível não se lembrar dos enigmáticos versos da obra “Paraíso Perdido”, de John Milton (124-25, Canto III): “Formei-os livres, livres ficaram, Até serem de si reféns.”
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO