domingo, 12 de março de 2017

MUITO PERTO DE LUGAR NENHUM


Foi à introdução da hierarquia no seguimento social que levou a subjugação do homem pelo próprio homem. Nas sociedades tribais e pouco organizadas seus membros se encontravam em relativa igualdade. Não se via ali pirâmide social de classe ou uma distribuição desigual de recursos. Era uma realidade idílica - se deixarmos de considerar a violência desencadeada pela luta individual por sobrevivência contra a natureza.
A natureza era ao mesmo tempo provedora e opressora. Fornecia ao homem os meios para sua sobrevivência e também o atormentavam com o calor, o frio, as inundações, os insetos, as doenças. Para evoluir o homem buscou dominá-la. Para isso se organizou: desenvolveu ferramentas, adotou uma linguagem para que pudessem se comunicar uns com os outros, desenvolveu os costumes, as crenças, ou deuses. As sociedades foram se unificando através do comercio e da cultura. Criou-se os valores éticos, o espaço geográfico se retraiu com a criação do automóvel e do avião. Os oceanos deixaram de serem obstáculos e os temíveis monstros marinhos se tornaram lendas.
A sociedade se tornou mais complexa, ramificada, imiscível. Critérios de separação foram criados e outorgados. Roupas “brancas” não deveriam ser misturadas com as roupas “de cor” na maquina social depravada pela ignorância conveniente. Teve inicio a escravidão, inicialmente criada a partir de conceitos étnicos. O negro, no entanto, podia ser consumidor, poderia aquecer o comercio. Um novo nicho social surgia para estes indivíduos marginalizados e novos gritos percorriam as ruas: Chega de escravidão! Escravo não é consumidor! Liberte-os! Libertados eles foram - não da sua condição de escravo, mas somente da sua imagem.
Mas a “maquina” continuou buscando métodos de subjugação. Os negros deixaram as senzalas e os pobres ingressaram nas fabricas - Ignorantes, porem fortes. Trabalho era a palavra de ordem! Doze horas por dia, sete dias por semana. Era a escravidão moderna com sua base ideológica pressa a um conceito de classe. Saem às grandes fabricas, vai-se embora a exploração desumana do século XIX. Surge à publicidade, a oferta de inutilidades úteis - o século XXI a luz das possibilidades do comercio.
Criaram-se necessidades por meio da linguagem conativa publicitária, aprisionou-se novamente o homem que se tornou escravo de seus desejos. Até onde iremos chegar? Impossível não se lembrar dos enigmáticos versos da obra “Paraíso Perdido”, de John Milton (124-25, Canto III): “Formei-os livres, livres ficaram, Até serem de si reféns.”
AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

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