sexta-feira, 16 de março de 2018

EM ALGUM MOMENTO...


Qual seria a extensão do grau de efetividade da segurança fabricada pelo dinheiro? Compra-se segurança na forma de um veiculo blindado, um condomínio bem guarnecido por câmeras de vídeo, porteiros, dispositivos de alarme, aquele 7.62 guardado na gaveta da cômoda ao lado da cama. São meio de proteção oferecidos pelo mercado que só exige uma coisa dos seus proprietários: dinheiro. O recrudescimento da violência urbana não é reflexo da suposta perda de poder coercitivo das leis. Endurecer as regras do jogo e determinar leis mais severas são medidas inúteis diante de um quadro social que se tornou caótico porque a segurança publica foi colocada em segundo plano e não porque as leis são falhas. Culpa de quem? Do governo? Não completamente!
A culpa por essa histórica chaga social que é a violência urbana também é da própria população. A segurança publica perdeu seu status de prioridade porque as classes mais abastadas perceberam que era mais barato comprar a própria segurança do que exigir do governo políticas voltadas para a solução do problema. Pagam-se impostos que não geram resultados satisfatórios, recorre-se então ao poder do capital privado. É por meio dele que a classe media brasileira se blindou dentro da sua falsa noção de segurança. O que o dinheiro compra sai da pauta de interesses e é exatamente nesse ponto que a população se polariza e se hostiliza, pois os interesses de uma classe deixam de se alinhar com os interesses da outra.
As cenas de violência e saques que vemos atualmente como uma realidade nacional é reflexo desse aspecto imiscível entre as classes brasileiras. A classe media se convenceu de que seu dinheiro é capaz de manter sua segurança; os mais pobres adotaram à violência como ferramenta no combate a falta de segurança. Ambas enfrentam seus dilemas e simultaneamente os alimentam: consome-se drogas, mercadorias pirateadas e ou roubadas. Investe-se diretamente em atividades ligadas ao trafico de drogas e ao aumento da violência. De quem é a culpa? Do governo corrupto e incompetente ou da população individualista e adulta que se comporta como uma criança que precisa de uma babá?
Cada um transforma em arma uma extensão do próprio corpo. Enquanto os pobres se convenceram do poder do próprio punho os ricos se convenceram do poder do próprio bolso. Cada um se fechou dentro de sua esfera particular de sobrevivência. Esqueceram-se de que em algum momento um será obrigado a entra no mundo do outro. Em algum momento o rico vai ter que descer do seu carro blindado e transitar por ruas onde a segurança publica foi negligenciada; em algum momento o pobre vai se ver obrigado a pedir emprego em uma loja que ele depredou e saqueou. Nessa hora vai se sair melhor àquele que menos vergonha tiver na cara. Resta apenas torcer para que em algum momento essa realidade mude.
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO

terça-feira, 31 de outubro de 2017

PÊNDULO DA TELEDRAMATURGIA


Novelas fazem sucesso entre os brasileiros, mas há quem diga que sua influencia diminuiu nos últimos anos. A internet pode ter rompido os laços de fidelidade do telespectador, mas o poder das novelas seja como meio difusor de tendências ou como pauta nos assuntos do dia a dia, continua a ter uma relevância significativa.
Se por um lado a qualidade das novelas - refiro-me aos aspectos visuais - tenha melhorado o mesmo não se pode dizer dos personagens. Nesse quesito não ouve progresso, mas apenas uma oscilação entre dois pólos simplificadores. A reformulação da imagem da “heroína”, em certa medida promovida pela expansão do feminismo radical, transformou a personagem feminina - que antes era vista como frágil, dependente e insuportavelmente inocente - em uma bandida, infiel, vaidosa e dotada de uma gigantesca necessidade de bajulação.
Em ambos os extremos a teledramaturgia brasileira retratou uma figura feminina superficial que em nada se aproxima da personalidade complexa e profunda da figura do mundo real. Um lamentável pêndulo criativo que oscila entre dois termos antagônicos e que ainda não foi capaz de ir além dessa estreita dimensão criativa.
TIAGO R.CARVALHO

domingo, 29 de outubro de 2017

FRUSTRAÇÕES


É do silencio delineado pela aparente ausência de sentido das circunstancias que o homem alimenta o barulho incessante de suas frustrações.
Tiago R. Carvalho

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

FALTA “MATURIDADE” POLITICA!


O brasileiro certamente ainda não desenvolveu “maturidade” política. Maturidade aqui não deve ser entendida como um termo lógico e sim como um termo cronológico, isto é, não se trata de uma incapacidade de enfrentar a situação e sim da falta de um tempo de contato mínimo para que o jogo da política seja encarado como um mecanismo natural de sua execução.
Conchavos sempre existiram na política em todos os lugares do mundo. Isso faz parte do que se chama “fazer política”. O conflito entre os poderes não é um sintoma de anormalidade é sim uma necessidade para que cada um deles cumpra sua função real. O fato é que não estamos acostumados com as reviravoltas da política, com as suas tramoias e com seus representantes.
É essa falta de “maturidade” política a responsável por colocar o legislativo brasileiro em seus diversos níveis - as Assembléias, as Câmaras de Vereadores e o Congresso Nacional - em um nível de confiabilidade expressivamente negativo. A democracia ainda não é encarada pelo que ela se propõe a ser e sim pelo que ela tem demonstrado ser: um regime flexível onde predomina a instabilidade devido à manutenção de interesses conflitantes.
A erosão da política brasileira se deve a “juventude” de sua base posibilitadora, ou seja, seus eleitores. Estes sempre colocaram o país na dependência da probabilidade. A escolha dos candidatos ocorre ao acaso como um simples rolar de dados de um jogo de soma zero.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

FALTA ENGAJAMENTO POLITICO?


Falta engajamento político ao brasileiro? Quando se levanta a questão da política no Brasil a critica mais recorrente é exatamente esta: falta engajamento. O problema é que a noção de engajamento político me parece ter sido distorcida pelo brasileiro e assumiu a forma de uma militância cuja força reside na polarização. Uma espécie de busca por harmonia dissonante.
Engajamento é quando o individuo se coloca diante de uma análise de um fato concreto tendo a consciência de seu papel como agente de mudanças sociais e políticas. O drama é que uma parcela muito reduzida da população consegue fazer uma análise que não seja reduzida a sua própria opinião e uma parcela ainda menor consegue se enxergar como agente de mudanças sociais. Isso em parte se justifica pelo desgaste que a imagem do voto, como ferramenta de cidadania, tem sofrido junto às massas. Diante de uma classe política que cada vez mais deixa transparecer seus aspectos mais lamentáveis é natural que se questione, por exemplo, a real efetividade do exercício da cidadania.
O fato é que continuar batendo na tecla de que falta engajamento político, sem que se haja uma real compreensão do termo por aqueles que o empregam pode ate piorar um quadro político caótico, como é o caso do Brasil, e que certamente não será resolvido por uma militância intolerante que não se cansa de tentar impor a todos as suas convicções políticas.
AUTOR
TIAGO R.CARVALHO

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A INSPIRAÇÃO DE MARTE


Dos explosivos a penicilina; das ondas de radio ao lança chamas; dos corantes as armas químicas; da fissão do átomo a Hiroshima. Tudo que é bom e tudo que é ruim nasceu na guerra, sob os olhos furiosos de Marte. A natureza não revela seus segredos sem cobrar seu preço. Essa é a fatura que nós pagamos por nos pretender buscar um lugar acima das demais espécies.
TIAGO R.CARVALHO

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A ARVORE


A arvore, ferida de forma irreversível, têm seus galhos dobrados pelo peso dos frutos do outono. A abundancia desses frutos é uma reação da própria arvore que diante de uma realidade que espelha a proximidade do seu fim reconhece a si mesma como uma criatura que suporta as vicissitudes da vida.
No fim ela desaba sobre sua própria sombra lançando ao chão os frutos que a enfraqueceram e que farão renascer uma nova e desafiadora criatura de seu próprio destino.
AUTOR
TIAGO R. CARVALHO